terça-feira, 24 de agosto de 2010

24 de Agosto - O Dia da Revolução

Manuel Fernandes Tomás, nascido na Figueira da Foz a 30 de Julho de 1771, foi cedo apelidado pelos historiadores novecentistas de “patriarcha da regeneraçaõ portugueza” (1), uma vez que, em 1818, por pensar que Portugal não poderia por mais tempo ser “colónia” do Brasil e governado por estrangeiros, fundou, juntamente com «aqueles com os quais sentia que poderia equacionar os problemas presentes da sua pátria» (2), o “Sinédrio”, uma sociedade secreta que desencadeou a Revolução Liberal de 24 de Agosto de 1820, pois «a sua alma era livre mas os seus pulsos tinhaõ ferros; e esses ferros eraõ um pequeno ello do grilhaõ immenso que pezava sobre a pátria.» (1)

«Quereis maior nome que este? quereis maior dôr que a nossa? não, Senhores, não ha hi portuguez honrado, que naõ clame affouto = naõ = e, se algum há, portuguez naõ é esse.» (1)
  
É certo que o patriota português teve apenas o devido reconhecimento por parte de alguns portugueses ilustres à data de sua morte (19 de Novembro de 1822) e num futuro relativamente próximo.
 Na oração fúnebre escrita pelo escritor/dramaturgo Almeida Garrett, podemos notar a grandiosidade de Manuel Fernandes Tomás: «E quem choramos nós: quem lamentaõ os Portuguezes? um Cidadaõ extremado; um homem unico; um benemerito da pátria; um libertador d’um povo escravo: Manoel Fernandes Thomaz.» (1) 
O mesmo valor não lhe foi reconhecido no seu tempo por parte do povo português, tal como hoje ainda acontece, uma vez que poucos são os que dão o devido valor ao nosso libertador.
O hábito de desvalorizar grandes personalidades em vida vem de longe. Também Luís de Camões, vulto maior das letras portuguesas, foi esquecido pelos seus contemporâneos como o refere A. Garrett no Frei Luís de Sousa, através das palavras de Telmo - «Lá foi Luís de Camões num lençol para Sant’ Ana. E ninguém mais falou nele» (3).
 O ilustre figueirense teve igualmente um final de vida precoce e abandonado - «no fim do penoso caminho da existencia naõ vio os olhos do seu amigo fita-los na extremidade da vida; chegou ás bordas do sepulchro, e naõ sentio um lagrima que lhe amolgasse a dureza da campa: entrou no jazigo, e naõ escutou um suspiro que lhe quebrasse o silencio eterno da morada dos mortos» (1).  
         Manuel Fernandes Tomás foi inicialmente sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, mas volvidos 166 anos da sua morte, em 1988, os seus restos mortais foram trasladados para a sua terra natal, onde ainda hoje se encontram, junto da estátua que lhe presta homenagem, na Praça 8 de Maio.
         Ainda em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, a 21 de Agosto de 1988, aquando da exposição em câmara ardente dos seus restos mortais, o Dr. Fernão Fernandes Tomás, descendente directo de Manuel Fernandes Tomás, no seu discurso mostrou a intenção da família de «venerar a sua memória e reavivar, às gerações presentes, e até às futuras, o valor exemplar do seu inigualável magistério moral e cívico, bem como o de lhe sublinhar a perenidade, que só distingue as personalidades raras e de eleição.». Infelizmente o desejo da família de perpetuar a figura deste cidadão tão digno e ilustre, patriarca da liberdade, não foi plenamente alcançado, uma vez que, hoje em dia, se se perguntar ao povo, sobretudo aos jovens, quem foi Manuel Fernandes Tomás, poucos saberão responder correctamente.
Devo sublinhar que os figueirenses deveriam saber quem foi esta notável personalidade e ter honra de pautar a sua vida pelos princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade, valores essenciais na construção da cidadania.

         Faço minhas as palavras de Garrett: «voltai os olhos sobre os poucos Portuguezes; fitai-os nestes ainda mais poucos, que o amor da pátria e das letras reunio neste lugar.» (1).
 


 Notas:
1-     Oraçaõ Funebre de Manoel Fernandes Thomaz, Almeida Garrett
2-    Uma visão oficial espanhola sobre Manuel Fernandes Tomás, António Pedro Vicente, Manuel Fernandes Tomás e o Vintismo, Câmara Municipal da Figueira da Foz, Associação Manuel Fernandes Tomás e Biblioteca Municipal da Figueira da Foz
3-    Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett

Texto escrito com a colaboração da Dra. Ana Maria Caetano



 

2 comentários:

Silva Cascão disse...

Querida Inês:
Poderias,neste teu belíssimo "post",ter feito uso, também, do texto de um quadro da peça de José Ribeiro "Mesa Redonda". Serviria para acrescentar ao que aqui dizes uma nota fundamental sobre o carácter desse GRANDE HOMEM : a sua probidade, bem demonstrada pelo facto de ter sido necessário abrir uma subscrição pública para prover ao sustento de sua família...
Um beijinho do
J. Cascão

Inês Fonseca disse...

Caro Maestro,
eu sei da existência desse belíssimo texto do nosso Mestre e até já o utilizei para enriquecer um dos meus trabalhos acerca deste Grande Homem. Aliás, este texto é também ele transcrito de um trabalho meu, muito menos elaborado do que o outro de que falo em cima.

Poderia de facto ter utilizado o texto, mas ficará para uma próxima, pois acho que este 'post' já está um pouco grande e tornar-se-ia aborrecido se acrescentasse ainda mais texto.

Cumprimentos,
Inês