segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Laranjais de Tavarede

Hoje vou falar-vos de um dos quadros teatrais que mais me atrai: o do Laranjal de Tavarede.

Em 1951, o Mestre José Ribeiro, na sua fantasia Chá de Limonete, cria um quadro que intitula «Bruxidades e Laranjas da China». Este começa com a continuação da história da nossa aldeia que o Velho-Tavarede vem, ao longo da peça, contando a Frei Manuel, que teria voltado do outro lado da vida propositadamente para visitar Tavarede e conhecer a sua história.
Naquele tempo, haveria em Buarcos uma bruxa, de seu nome Isabel Peixinha, que tinha grande habilidade para curar os males da população, tendo por isso uma grande quantidade de fregueses. Um dia é chamada a Tavarede para curar uma rapariga que se encontra muito mal de saúde e, no entretanto, Sebastiana pede-lhe que passe por sua casa a tirar os espirítos do corpo de sua filha, que anda com gostos esquisitos e ainda há instantes lhe tinha pedido que lhe desse sardinha com laranja. Apesar de tudo, a mãe não quer deixar de satisfazer o desejo de sua filha, indo assim à procura de quem tivesse laranjas, quando ouve um vendedor pregando: «Laranja da China - dos pomares de Tavarede!...». Deste modo, entra em cena a Laranja de Tavarede, dizendo:

«Tem larga nomeada em Portugal
A laranja da China, tão gostosa,
Fruta maravilhosa,
Sem igual,
Que os olhos enche de doirada luz
E o paladar seduz.
Dia a dia vai alastrando a fama
Desta nossa laranja,
Que os barcos levam através dos mares
Para a estranja,
Aonde já se aclama
A rara formosura e a riqueza
Dos pomares
Da generosa terra portuguesa.
Presentes de laranjas das mais belas
P’ra Roma têm ido. E tais são elas
Que Roma inteira
Ficou desses presentes deslumbrada,
E a Cúria pode até ser conquistada,
No dizer de D. Vicente Nogueira,
Com enxertos da nossa laranjeira:
Pois os Bispos e até os Cardeais
Comem laranjas e choram por mais!
Que fresca e doce a laranja da China,
Tão perfumada,
E delicada,
De linda cor e de casca tão fina,
Que aos milhares, em barcos reluzindo,
P’la barra da Figueira vai saindo!...
E essa laranja doce e sumarenta
Que as bocas dessedenta
E da China é chamada,
Ao país dos chineses não pertence,
- Pois é criada
Neste belo pomar tavaredense! »

Depois disso, a cena tranforma-se num grande pomar paradisíaco e é cantada pela Laranja de Tavarede a seguinte valsa:


«Laranjas assim tão gradas
Só do nosso laranjal:
Doiradinhas, perfumadas,
As melhores de Portugal.
Temos sol dentro de nós,
Temos saúde e doçura.
E p’rás bocas sequiosas
A laranja é a frescura.
São um encanto
São um tesoiro
As laranjeiras
Floridas de oiro!
É a laranja
Manjar do céu:
A melhor fruta
Que a terra deu.»


E assim reza o quadro das Laranjas do Chá de Limonete.

Mais tarde, em 1982, José Ribeiro, na sua fantasia Viagem na Nossa Terra volta a pegar no mesmo tema, criando um quadro intitulado «Laranja da China...de Tavarede e Vinho do Porto...da Figueira» escrevendo novos versos para serem ditos pela nova Laranja de Tavarede:

«Laranjas!... Quem quer o fruto doirado
E perfumado
Deste nosso laranjal?...
O nome diz que é da China...
Mentira!... Pois esta fruta divina
É nascida em Portugal!
Vinde, senhores, vinde ver
E escolher
Laranjas gradas, formosas,
De comer e chorar por mais...
Vinde, pois, matar a sede
Aos laranjais
Do Couto de Tavarede!»

E assim como aconteceu no semelhante quadro da peça Chá de Limonete, após estas palavras, a cena transforma-se num fantástico laranjal e a ouve-se a Laranja cantar:

«Belas laranjas doiradas
As do nosso laranjal!...
Fresquinhas e perfumadas,
As melhores de Portugal!
A Roma chegou a fama
Destes nossos laranjais!
Lá vamos matar a sede
Aos Bispos e Cardeais...
Certo não foi com maçã
Que o Adão matou a sede...
Mas com laranja da China
- Da China - dos laranjais de Tavarede...
Ó Laranjeira!
Rico tesoiro!
Árvore bendita
Dos pomos de oiro!
Louvada sejas
Por tua flor:
Graça e pureza
Que diz – Amor!
Do teu pomar
Traz-nos o vento
O doce cheiro
A casamento...
Lá vai por mar
Para a estranja
Rica laranja
Deste pomar!...»

Deixo-vos algumas fotos alusivas ao tema:

Viagem na Nossa Terra (1982):



Laranjal de Tavarede

Marcha do Centenário (2004):



Laranjal - Joana Almeida, Ana Cláudia Silva, Ana Isabel Silva, Ana Catarina Barbosa, Marta Fonseca, Raquel Rodrigues, Carla Fonseca, Cristina, Ana Maria Caetano



Laranja de Tavarede - Ana Maria Caetano

Bienal do Associativismo 2007:



Mariana, Joana, Sílvia, Inês (da esq. para a dta.)

Bienal do Associativismo 2009:



Ana Teresa (fr.), Joana, Inês e ... (da esq. para a dta.)

2 comentários:

Olímpio disse...

Aceite o meu abusivo acto para lhe pedir que vá clicar no meu modesto blogue,onde poderá ler um pequeno texto sobre o hino da vossa colectividade,coisas minhas e das minhas emoções,ás vezes alegres e outras tristes.Muito grato

Raquel disse...

Um dos quadros que mais gostei de fazer até hoje...
Saudades do fantástico espectáculo a "Marcha do Centenário"!
Beijinho Inês**