Num passado já algo longínquo, Tavarede foi sede de concelho, ou seja, era a Vila mais importante da Figueira da Foz. Passado um tempo, foi-lhe retirada a Câmara Municipal e, ainda, o título de Vila, passando Tavarede a ser uma Aldeia. Estamos no ano de 1771.
É em 1904 que nasce, com o objectivo de instruir e educar, a casa que vai unir os camponeses desta humilde aldeia: a Sociedade de Instrução Tavaredense. Ali passou a funcionar uma escola nocturna, uma vez que a maioria da população era analfabeta. Contudo, depois de um cansativo dia de trabalho, não era só para frequentar a escola que cada vez mais pessoas ali se deslocavam para passar os seus serões. Na S.I.T., havia algo e alguém que chamava toda aquela gente: o Teatro, dirigido, a partir de 1915, por José da Silva Ribeiro, a quem ainda hoje se chama de Mestre, por ter feito de simples aldeões, grandes amadores, muitos deles distinguidos como os melhores do país, em concursos de Teatro Amador. José Ribeiro punha em palco dezenas e dezenas de pessoas, desde as crianças aos idosos, representando, com orgulho, peças que ele próprio escrevia e também outras dos mais conceituados dramaturgos nacionais e internacionais. O povo tavaredense estava, nesta altura, todo unido, fazendo da sua aldeia, um poço de cultura e tradição.
Quem tiver lido isto até aqui, conhecendo a actualidade de Tavarede, pergunta-se, tal como eu o faço, onde estará esta terra, que conheceu tempos tão áureos.
Hoje, Tavarede é novamente Vila, mas vai-se cada vez mais tornando um dormitório da cidade: as pessoas vivem no anonimato, não se conhecem umas às outras, não se unem, como antigamente, por uma causa, não se preocupam em manter as tradições vivas.
O Teatro, felizmente, ainda existe, mas, se se tentasse repor uma peça escrita pelo Mestre, já não seria possível, pois não há gente suficiente para o fazer. Contudo, as pessoas podiam não representar, mas gostar de assistir às peças, mas não é o que parece: consegue-se encher a casa apenas uma vez, quando outrora se enchia durante semanas e semanas seguidas.
A música era também uma tradição da terra, cultivada pelo Grupo Musical de Instrução Tavaredense, casa que comemorou, este fim-de-semana, o seu centenário, mas que pouca actividade desenvolve.
Com tanta gente que vive aqui, podia, como em muitas outras freguesias do concelho, haver grandes grupos ligados à música, à dança, ao teatro, à etnografia, entre muitas outras actividades possíveis, mas as pessoas não se mostram interessadas em unir-se para trazer de volta tempos áureos a Tavarede.
Já Camões dizia: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.
P.S.: E a minha vontade de escrever, às vezes, também me foge. Desculpem!