quarta-feira, 10 de junho de 2009

A importância de Tavarede

Aqui há umas semanas, não muito tempo, foi-me pedido, no âmbito da disciplina de português, que fizesse um trabalho sobre uma personalidade que para mim tivesse especial relevo e fosse merecedor de uma homenagem, na sucessão da análise crítica de um texto sobre o programa Grandes Portugueses que passou há uns dois anos na RTP1. Depois de pensar e de me aconselhar, surgiu a ideia de abordar Manoel Fernandes Tomaz, figueirense, «patriarca da liberdade portugusa».
Resolvi deixar a internet de lado para a minha pesquisa e trouxe para casa duas compilações da Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás e da Câmara Municipal da Figueira da Foz e, depois de muitos textos lidos, eis que, na compilação Manuel Fernandes Tomás e o Vintismo me surge um de nome «Figueira da Foz- dos seus primórdios até à época da juventude de Manoel Fernandes Tomaz», de José de Almeida Santos. Começo a ler e, ainda no primeiro parágrafo, encontro uma frase que diz: "(...) nasceu, precisamente, no ano em que a Figueira se libertava da tutela administrativa da Câmara de Tavarede e era elevada a vila- 1771.". Manuel Fernandes Tomás podia não me interessar muito, mas Tavarede sim, por isso, não deixei aquele texto de parte, como fiz com alguns dos outros, e continuei a ler - não me arrependi de o ter feito, pois sabia que Tavarede foi importante, mas desconhecia que tivesse sido tanto assim.

Em 1080, aquando da Reconquista Cristã, foi doada ao Abade Pedro, a actual Figueira da Foz, por D. Sisnando. Mais tarde, em 1191, D. Sancho I concedeu também à Sé de Coimbra o couto de Tavarede, que, da zona que ia de Quiaios a Lavos, era a maior povoação, o que fez com que ali fosse instalada a administração que dizia respeito às localidades de que a Sé de Coimbra era detentora. Tavarede viu concedido o seu foral em 1517, por D. Manuel I, fazendo assim com que fosse elevado a concelho, de que a Figueira fazia parte.
Por volta de 1550, a família Quadros, então detentora das casas de Buarcos e Vila Verde, estabeleceu-se em Tavarede, causando alguns distúrbios, uma vez que se negavam a pagar as pensões devidas aos senhorios directos de qualquer propriedade, quando esta era vendida ou doada. Assim, os Senhores de Tavarede, não respeitando a jurisdição do Cabido, fizeram com que este, em 1759, requeresse a transferência da Câmara para a Figueira, o que não chegou a acontecer, devido ao poder daquela família.
No entanto, a 12 de Março de 1771, a Figueira foi elevada a vila, e, portanto, a câmara foi lá estabelecida. A essa data, a Figueira detinha à volta de 314 fogos e 1625 habitantes, sendo assim mais populosa que Tavarede, antiga sede do concelho, que não tinha mais de 115 habitações e 513 moradores.

Também este pedaço da História não o deixou passar em branco o Mestre José Ribeiro, que, na fantasia Chá de Limonete, mais precisamente no 10º quadro- "Lamentos da Vila de Tavarede"- escreve:


Vila de Tavarede
«Ribeiro de águas claras
Que para o mar vais correndo,
Contigo levas as mágoas
Desta dor que estou sofrendo.
Prà Figueira vão mudar
Minha Câmara velhinha,
E de Vila eu passarei
A ser aldeia mesquinha.
Coro das Povoações
Ó Vila de Tavarede,
Põe luto no teu brazão:
Rasgaram a tua história
Desprezando a tradição.
Lugarejos que nós somos
E te respeitam por mãe,
A afronta que te atingiu
Nós a sentimos também.
Vila de Tavarede
Das regalias que tive
Uma longa história fala.
Fui senhora tantos séc'los
Para agora ser vassala!
Vila antiga como eu fui,
De nobreza verdadeira,
Esquecem meus pergaminhos
Para dar honra à Figueira.
Coro das Povoações
Ó Vila de Tavarede,
Põe luto no teu brazão:
Rasgaram a tua história
Desprezando a tradição.
Lugarejos que nós somos
E te respeitam por mãe,
A afronta que te atingiu
Nós a sentimos também.»

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