sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sal de Tavarede

O assunto de que vos falo hoje poderá parecer estranho a muitos, mais particularmente aos jovens.
Sal de Tavarede. É verdade, hoje em dia há sal em Tavarede, mas só nos supermercados e é certo que não é desse que vos venho falar, mas sim do sal nascido propriamente em Tavarede. Antigamente, mas mesmo muito antigamente, havia salinas em Tavarede.
«As [salinas] de Tavarede eram anteriores á monarchia portugueza. (...) Não se pense, porem, que as marinhas de Tavarede eram só as que estavam situadas no valle da Varzea, das quaes ainda subsiste uma entre a Lapa e o moderno Casal do Rato. O vale de Caceira, quem tambem pertencia em grande parte ao couto de Tavarede, visto que a linha divisória do couto de Villa Verde seguia o leito do ribeiro de Caceira e passava por um marco na velha fonte da Salmanha, ainda em 1722 estava sulcado de salinas, que chegavam até ao sítio da Vergieira.», Materiais para a História da Figueira nos Séculos XVII e XVIII, por António dos Santos Rocha
Se hoje olharmos com atenção para os terrenos onde ainda subsiste a agricultura em Tavarede, podemos observar que estes ainda deixam notar a presença das salinas, uma vez que são delimitados ao jeito dos talhões de sal.
Nesse tempo, não eram raras as vezes em que chegavam barcos a Tavarede, com o intuito de transportar o sal aí produzido.
José Ribeiro, como parece óbvio, não se esqueceu de criar um quadro de teatro, homenageando homens e mulheres que trabalhavam arduamente na produção do sal. Fê-lo pela primeira vez na fantasia Chá de Limonete, retomando o quadro numa outra fantasia- Terra do Limonete.
Ora então, deixo-vos hoje com a letra de "Marinhas de Tavarede" (José da Silva Ribeiro, Chá de Limonete, 1950).


«Bendita a água do mar
Que as salinas faz viver,
De talho em talho passando,
Água que o sol vem beber
Para que o sal vá mostrando
Sua brancura sem par...
Moira, moira, marnoteiro...
Já vem o sal a nascer...
Deixa a pá, anda ligeiro
E toma o galho de rer...
Eh ! cachopas, podeis crer:
- Que isto vos não envaideça...-
Encanta ver-vos correr
Levando o sal à cabeça !
Correu tempo de feição !
Salinou bem a marinha
Desde as praias ao talhão...
Venha bom peixe na rede,
Pois temos com farturinha
O bom sal de Tavarede !»

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